Revista Latinoamericana de Psicoterapia Existencial. UN ENFOQUE COMPRENSIVO DEL SER. Ao 15 - N 29 Octubre 2024

 

Seccin Caso Clnico

O luto infantojuvenil

Relato de experincias

 

Childhood grief

Report of experiences

 

Elaine Lopez Feijoo

Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo

Rio de Janeiro, Brasil

IFEN


 

Resumo

Os estudos sobre o luto so fundamentais para que possamos compreender as especificidades dessa experincia de modo a poder distinguir o luto de outras perdas. Na modernidade, com o advento dos cdigos que descrevem as diferentes desordens mentais, foram se estabelecendo alteraes psquicas patolgicas, dentre elas, o luto. Essa experincia deixou de ser uma manifestao da dor pela perda de um outro significativo e passou a ser posicionado como patolgico, tendo como referncia o intervalo de tempo e a intensidade da dor experimentados pelas pessoas que se encontram enlutadas. Neste estudo mostramos o acontecimento do luto infantojuvenil para alm as categorias presentes nos diferentes manuais. Por isso, apresentamos o luto experimentado por Carla pela perda do av no momento pandmico.

 

Palavras-chaves

Luto, clnica psicolgica, infncia e juventude.

 

Abstract

Studies on grief are fundamental so that we can understand the specificities of this experience in order to distinguish grief from other losses. In modernity, with the advent of codes that describe different mental disorders, pathological psychic changes were established, including mourning. This experience stopped being a manifestation of pain due to the loss of a significant other and began to be positioned as pathological, having as a reference the time interval and intensity of pain experienced by people who are bereaved. In this study we show the event of childhood grief beyond the categories present in the different manuals. Therefore, we present the grief experienced by Carla for the loss of her grandfather during the pandemic.

 

Keywords

Grief, psychological clinic, childhood and youth.

 

A vida, senhor Visconde, um pisca-pisca. A gente nasce, isto , comea a piscar. Quem para de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar abrir e fechar os olhos viver isso. um dorme e acorda, at que dorme e

no acorda mais...

(Memrias de Emlia Monteiro Lobato)

 

Este estudo faz parte da pesquisa coordenada pela professora Ana Maria Feijoo intitulada Morte, Luto e Psicoterapia em tempos de coronavrus e somos instrudos a iniciar os atendimentos psicolgicos na medida em que o analisando nos procure. Esses atendimentos so todos acompanhados pela coordenadora da pesquisa e coautora deste texto. Antes da finalizao do estudo clnico, ele apresentado turma de Especializa em Clinica Fenomenolgico - Existencial do Instituto de Psicologia Fenomenolgico-Existencial do Rio de Janeiro (IFEN). Introduzimos no texto algumas pontuaes muito pertinentes que ocorreram durante o debate da situao clnica.

Com relao a paciente que iremos acompanhar aqui, ela foi encaminhada a partir da conversa com as alunas do grupo de Formao infantojuvenil na perspectiva fenomenolgico-existencial, quando informamos que estvamos atendendo gratuitamente crianas e adolescentes com a finalidade de pesquisar como crianas e jovens experimentam o luto. Cabe ressaltar que algumas questes apareciam no grupo de pesquisa e suscitavam a necessidade de um maior aprofundamento. Entre elas a que destacaremos nesta oportunidade : o luto no perodo da infncia ou da adolescncia seria experimentado da mesma forma que o adulto?

Uma das alunas, coordenadora de uma escola que abrigava alunos nessa faixa etria, indicou uma adolescente que estava atravessando uma situao de luto e parecia muito mobilizada com a situao. Pedimos ento, que ela passasse o contato de um psicoterapeuta do grupo para a responsvel pela jovem, que fez contato com um dos psicoterapeutas e a sesso foi agendada na modalidade virtual. O primeiro encontro aconteceu com a me da jovem que convencionamos chamar de Carla.

A me de Carla [1]conta nesse primeiro encontro que perdeu seu pai por Covid recentemente e que todos da famlia esto bem abalados com a situao, no entanto a filha que mais a preocupa Carla. Ela vem tendo crises de pnico, muita ansiedade e irritabilidade. Frente ao relato da me da jovem, pergunto: Voc pode me falar um pouco mais sobre a forma como vocs percebem a crise de pnico, a ansiedade e a irritabilidade?. Com essa pergunta, como diz Feijoo (2010) a arte do bem perguntar, pretendo no me apressar. A pressa ocorre no momento em que de antemo j sei pelo que aprendi nos compndios o que pnico, ansiedade e irritabilidade. Por fim, para no correr o risco de compreender a ansiedade experimentada por Carla a partir dos manuais de psiquiatria, peo que a me me conte o que est acontecendo com sua filha.

A me ento responde: Do nada, ela sente falta de ar, pode ser em casa, na escola. Teve um primeiro episdio na igreja. J tive que busc-la na escola. Tento conversar, dar colo, mas acho que seria bom mesmo ela fazer terapia, pode ter coisas que ela no queira falar comigo, e que com uma psicloga ela fale. Carla tem respondido a gente rispidamente, no quer ir escola e isso gera conflitos em casa, briga com os irmos sem motivo. Por fim, a me de Carla conta que os seus avs ficaram internados no hospital com Covid. O av veio a falecer e que esse fato a abalou muito.

Convm observar que a me de Carla, ao ver a situao acontecendo, decide que a filha precisa de ajuda profissional. J temos aqui algo que diz de uma situao familiar: entregar nas mos de um profissional o problema que est surgindo no mbito familiar, ou seja, a me confia no profissional para junto fiar, tecer a questo que ali se apresenta.

No final da entrevista, apresentamos o termo de consentimento livre e esclarecido para fins de pesquisa e marcamos o primeiro encontro com Carla.

 

O encontro com Carla

Carla chega ao primeiro encontro e logo ocorre a apresentao:

- Ol Carla! Como voc est? Eu me chamo Elaine.

Carla com a voz meio lenta e um tanto arrastada responde:

- Ah... estou bem hoje! Mas eu ainda estou bem mal. Ontem de madrugada comecei a chorar muito, muito triste, com saudades do meu av... ... e a a minha me me abraou, me ajudou... cara! Deve ser dodo demais para ela, n?

Carla continua falando:

- A minha me me diz que o v j foi, deixa ele descansar! Ela foi me acalmando... e a eu dormi ali com ela, com a minha av... ela dormia no sof... pq... por causa da ansiedade e tudo, eu tambm fiquei bem nervosa e a, ela deitou no sof e eu preferi dormir ali com ela do que dormir com a minha av... Assim... minha av at colocou a cabea para fora do quarto e falou: U, Carlinha, no vem aqui no? A eu falei: ah v, hoje eu vou dormir com a minha me.

A psicoterapeuta dando prosseguimento, pergunta:

- O que aconteceu que voc no quis dormir na mesma cama com a tua av?

Carla prontamente encaminha a resposta:

- porque assim, ns moramos em cima, e meus avs embaixo, mas a mesma casa. O que aconteceu que eu achava que minha av precisava de mim e que minha me precisava voltar a dormir na casa dela, por causa do trabalho, cansativo para ela, sabe? Ento eu levei at as minhas roupas pra l, para o armrio que era do meu av. Inclusive o lado que eu deito na cama onde ele dormia. uma cama que sempre fiquei, e quando ele vinha para dormir, ele dizia: no quero ningum esquentando minha cama! tudo estranho, a gente tinha um costume, no estava preparada! Como ela vai ficar? Quando me contaram que ele tinha morrido, as primeiras pessoas que vieram na minha mente foram minha av e minha tia-av que irm dele. A minha av forte, mas a irm dele tem uma sade frgil, at hoje no sabe dele. Minha preocupao como ela vai ficar, ainda mais com a idade que ela tem. Eu amo muito a minha av e tenho medo de perder ela!

A psicoterapeuta compreendendo o medo a que Carla se referia, diz:

- Entendo que seja difcil para voc! Voc acabou de perder seu av. Av e av ficaram mal no hospital, ela se recuperou e ele no...

Carla interrompe e continua:

- Pois , ela nem me viu chorar... o que que acontece? Esses dias comeou a ligar um moo l pra casa e, basicamente, esse homem era um antigo namorado da minha av, e ela foi noiva dele, e ele noivo dela... e aconteceu antes dela conhecer meu av... assim, n? E acabou que ele a traiu, um negcio assim, enfim eles terminaram. Ele tambm, pelo que ela me contou, ela queria danar e ele no deixava. Enfim, ele comeou a ligar l pra casa e todo mundo ficou sacaneando: o que ser que ele quer com voc? Mas assim, a gente brincava... A nesse dia, era l pela meia noite e eu ainda no tinha ido dormir, quando entrei no quarto e ela estava falando no telefone, assim, deitada na cama, toda boba... A eu pensei: ah, ela t falando com esse cara!!!

E a eu fiquei com muito cimes e muito triste ao mesmo tempo. Comecei a pensar no meu av, comecei a chorar, a sentir muita saudade dele, muita, muita, muita falta dele. A gente fala de brincadeira e assim, a minha av est feliz! T reencontrando uma amizade, porque antes de tudo eram amigos, n?

Comentrios

parece que a questo que Carla experimenta secundria ao luto, ou seja, o luto que parecia ser a questo primria no se apresenta desse modo. O incomodo dela est no modo como a av lida com o luto. Uma outra situao que aparece com a adolescente, que tambm aparece nas entrevistas com os adultos em situao de luto essa sensao de falta de ar. Ns psiclogos falamos em somatizao. A situao a perturba, escapa s suas expectativas, que era a de que a av iria sofrer muito.

Carla se desorganiza, as coisas saram de seu controle ou no aconteceram de acordo com suas expectativas. Comea a procurar os pais para provavelmente encontrar um consolo, fica ansiosa porque no consegue o consolo desejado. Esperava que os pais estivessem disposio dela. E como as coisas continuam no acontecendo como ela queria, fica irritada. A experincia dessa jovem de desespero, uma vez que o que ela quer no est indo ao encontro do que ela pode. Ela quer que o luto da av seja de um jeito, mas ela no pode fazer com que o luto da av seja do jeito que ela quer. Essa ansiedade e irritabilidade falam do desespero que acontece quando querer e poder esto descompassados. O desespero a doena do homem moderno, ou seja, a doena de um querer que desconhece limites.

Na morte de algum prximo, s vezes, ocorre que a pessoa se d conta que ele ou ela tambm so mortais, torna-se desesperado com a possibilidade da sua morte e isso faz com que ocorra uma ateno maior ao corpo, respirao, dando a impresso de que no est respirando e precisa de algum por perto para poder salv-la.

Em entrevistas realizadas com adultos enlutados, nessa mesma pesquisa, aparece no relato de alguns deles o fato de eles sentirem os mesmos sintomas daquele que perdeu. Falta de ar um dos sintomas do Covid, e Carla traz essa situao. Uma vez sabendo que comumente somatizaes acontecem, ganhamos tranquilidade frente aos relatos de sintomas fsicos.

O psicoterapeuta, atento ao que Carla dissera sobre o fato da av estar se abrindo a outras possibilidades de relacionamento junto ao fato de ela j ter dito que no queria dormir na cama da av, disse:

- como se tua av no estivesse na mesma sintonia em que voc se encontra com relao a perda do teu av. isso?

Carla prontamente responde:

- Exatamente! Eu precisava que eles me atendessem.... mas a meu pai atendeu e pedi que ele chamasse a minha me queria, que ela descesse. Mas ela estava no banho, ento meu pai desceu, conversou comigo. Logo minha me chegou, me abraou. Enfim, eles me acalmaram, e minha me resolveu dormir ali com a gente. Eu estava muito nervosa! Chorando muito! Tive a sensao de parar de respirar e a passou, acabei pegando no sono. No dia seguinte, no fui a aula, no queria ir... minha me no insistiu para que eu fosse. Passei um dia muito tranquilo, cansada e sonolenta. Minha me e minha av estavam no salo e fui encontr-las. Depois fui ao jazz e a mdica que eu j estava marcada. S que a noite eu fui ficando meio... eu fui pensando: e se eu estou com falta de ar, e se eu estou assim... mas no foi uma crise, foi um pensamento. Chamei minha me, que me deu uma acalmada, um remdio. Geralmente, tenho a sensao de que o ar no est indo para o pulmo, eu estou respirando, mas o ar no est descendo para o pulmo. Eu sei que sim, que est. Fico me sentindo angustiada e a eu acho que o ar no est indo para o pulmo para me aliviar, me tranquilizar.

- O que voc acredita que est acontecendo com voc: sabe que est respirando, mas tem medo de no estar?

- Eu acho que eu penso demais!

- E sobre o que, exatamente, voc pensa demais?

Carla para por um pequeno intervalo de tempo e retorna:

- Que vou sentir falta de ar do nada, quando eu estou mais tranquila, sem muito barulho ou estou sozinha, ou mexendo no celular, comea a vir a sensao de que eu vou ficar... penso: ser que vou ficar sem respirar hoje tambm? Geralmente, quando vem do nada, quando eu comeo a ficar muito triste, ou at mesmo agitada. Eu fico pensando que eu estou maluca! Comeo a pensar: ser que estou querendo isso? Porque estou querendo isso? No quero ficar com falta de ar, mas d essa sensao, no sei explicar, meio doido.

O senso comum recomenda ao enlutado para se distrair. A distrao justamente o modo como no deixamos que o tdio nos abarque. Com isso compreendemos o que leva Carla distrao, ela diz:

- Quando no estou distrada, ou seja, quando estou em contato com as minhas questes fico muito mal, sinto falta de ar, fico inquieta e com muito medo de ficar s. Por isso preciso ter minha me por perto, tenho que me distrai para no sofrer.

Heidegger (1929/2006) refere-se a essa vontade de distrao e ocupaes mltiplas como uma tentativa de no deixar que o tdio nos abarque. E ento, ele completa, frente a isso, nos voltamos para o tdio e perguntamos o que afinal ele quer de ns. E foi nessa direo que o psicoterapeuta conduziu a sesso.

- Voc no quer sentir, mas voc se afeta com a situao. Como voc mesma se perguntasse Ser que vai acontecer? Voc me falou que quando est muito triste, fazendo qualquer coisa, isso aparece. Vem esses pensamentos. Tem esses pensamentos e tem a questo fsica que a falta de ar. Voc est passando por um momento difcil, que a perda de algum muito prximo e isso mexeu muito com voc. Mas quando voc pensa ser que vou parar de respirar, queria entender, o que pode acontecer se voc parar de respirar?

O que Carla est trazendo algo que diz respeito experincia de luto: dor, perda, somatizao. Ento no a dor porque ela, logo ela, tomada pela dor, como algo do tipo coitada de mim. Naquele momento toda experincia de perda, de uma proximidade perdida, da presena daquilo que se encontra ausente, toma conta dela, a domina, e ela chora. Entender isso como luto patolgico, entender por manuais que dizem qual a intensidade da dor considerada normal e qual o tempo que se pode sentir dor, para que a dor seja normal. Dentro da nossa perspectiva no se trabalha com essas referncias de normalidade, mas sim com a experincia singular. E todo esse relato de Carla com relao a sua experincia singular, naquele momento de algo que se encontra ausente, ou seja, a presena da ausncia que a domina, a faz chorar, sentir dor, a ponto de ter reaes somticas que provavelmente o seu ente querido teve antes de morrer.

Em pesquisas anteriores sobre o luto (Brice, 1991; Feijoo, 2022) a sintomatologia fsica daquele que faleceu referenciada pelo enlutado, independentemente da idade, do gnero ou do grau de parentesco. No saber a idade de Carla, no faz nenhuma diferena sobre o que ela relata estar experimentando.

Na situao de luto muito recente, a atuao clnica costuma acontecer por duas intervenes do psicoterapeuta: uma o silncio acolhedor, que acolhe a dor no gesto, na ateno e, at de vez em quando, no se emocionar. No comungamos com a ideia de neutralidade, nem acreditamos que seja possvel ser neutro, nem mesmo na suspenso dos afetos. A relao clnica se d numa atmosfera afetiva.

A segunda forma de atuar acontece em dois tipos de interveno. Uma a refletora de contedo verbal, onde fazemos um resumo do que a pessoa falou para devolver a ela, para que ela sinta que o psicoterapeuta toda ouvidos e que est acompanhando o paciente, presente ao que ela est dizendo.

Em que esse modo atento de acompanhar o outro difere do modo como na cotidianidade as pessoas se relacionam? Normalmente a conversa entre as pessoas ocorrem sem que elas prestem muita ateno ao que est sendo dito. Na maioria das vezes, as pessoas esto preocupadas com o que vo falar ou com o que vo fazer. J o psiclogo todo entrega ao que o outro tem a dizer. Ele sustenta uma escuta diferenciada. Ao intervir com uma refletora de contedo verbal, a pessoa pode ver a diferena desse modo de estar junto ao outro, estando com o outro, diferentemente de uma relao descomprometida. Na interveno clarificadora da experincia emocional, o psicoterapeuta apreende o afeto que atravessa aquele relato e diz: Compreendo, essa situao te entristeceu muito. Nesses modos de atuao o que voc est mostrando que voc est acolhendo o outro, est junto ao outro, ou seja, numa relao de confiar, de fiar junto, para que voc possa sustentar que o outro possa falar o quanto quiser da sua dor.

Carla continua o seu relato:

- Eu no cheguei a pensar nisso assim. Eu no penso no que vai acontecer se eu parar de respirar, eu penso no momento. O que est acontecendo agora. Eu acho que eu no penso nisso necessariamente. Eu sinto o que est acontecendo comigo, vou ficando preocupada. O que passa pela minha cabea se eu estou inventando tudo isso, se estou fazendo isso porque eu quero. Fico com a sensao de que estou fazendo tudo isso de propsito, sabe? Sensao estranha, no sei explicar. Ser que quero aparecer? Sei l, no chego a pensar e se eu parar de respirar!?!

Talvez assim, em algum momento, quando eu estava muito triste, talvez eu tenha pensado: se eu parar de respirar? Se eu morrer agora? Mas no lembro, passa muita coisa na minha cabea. Geralmente como se fossem dois tipos que me levam a ter falta de ar. A primeira vez que tive falta de ar, foi quando comeou tudo. Foi no incio de setembro, estava na igreja, na missa, tranquila e relaxada. Eu j vinha tendo umas situaes de chorar de saudades do meu av, precisava conversar com algum. A minha coordenadora, que me indicou para voc, sempre conversei com ela, demais assim, ela me apoiou muito. Ela era meu suporte, tirando minha me, claro! A o seminarista, estava atuando na missa, na hora da homilia, o padre comeou a falar sobre coisas muito bonitas, baixando a voz, Tudo o que ele falava combinava muito com o que eu estava sentindo. Chorei muito, embaixo da mscara estava tudo molhado e eu queria logo sair dali, no estava aguentando, estava me sentindo presa, fui ficando muito angustiada. Cheguei para o seminarista e falei: estou passando mal. Estava sem respirar mesmo, como se eu estivesse enforcada, a roupa fechada, fui abrindo os botes. Chamaram minha me. Ela fez exerccio de respirao comigo, foi me tranquilizando. Pouco tempo antes, o pai do meu primo tinha acabado de morrer, eu estava triste pelo meu av, meu tio, meu primo, que considero um irmo mais velho. Agora, estou lembrando aqui (chora), quando meu av estava sendo enterrado, estava do lado do meu primo, abraada com ele, ento assim, algo muito significativo para mim o abrao dele. Quando a gente descobriu que meu av morreu, eu abracei muito meu primo. Ento nesse dia era o que passava na minha cabea, a morte do meu av, as saudades dele.

O psicoterapeuta continua a sustentar o tema que traz dor, ou seja, convida o tdio a dizer o que afinal ele quer?

- Esse dia na igreja, onde voc estava num momento de reflexo, de uma conexo mais espiritualizada. Isso fez com que essas emoes aflorassem ainda mais. Quando voc pensa na perda do seu av, no sofrimento do seu primo que tambm perdeu o pai, isso tudo vem tona e voc se sente assim, com falta de ar, sufoca, isso?

Carla corresponde e continua no tema:

- Ento eu posso ter uma crise quando penso nisso ou quando vem do nada. Logo no incio eu vi um post no Instagram que dizia que a gente s respira por uma narina. Eu comecei a achar que no estava conseguindo respirar, chamei minha me. Sou uma pessoa agitada, brincalhona, animada, sempre fui assim. Estava na aula com a professora de artes, brincando com um amigo e falei com ela que no estava bem por causa da agitao.

A psicoterapeuta nesse momento precisa que essa situao se esclarea e continua:

- Voc sempre foi desse jeito alegre, animada e, agora diferente, isso?

- Era, eu sabia a hora de parar, agora no consigo. Professora, preciso me levantar, no consigo ficar sentada, fico andando para l e para c. Sempre me achei muito madura, que poderia falar de tudo sem me afetar. Um dia no recreio fui percebendo minha ansiedade, teve um dia que faltei aula. A missa foi no domingo, no dia seguinte, na mesma madrugada me peguei com ansiedade, faltei aula. Meus amigos falaram que sentiram minha falta. No recreio estava conversando com a minha amiga e comeamos a falar da minha crise. Contei para ela como se eu tivesse curada, super tranquila, mas s de falar a palavra me deixa nervosa, com falta de ar. Estava tendo crises frequentes, e com o tempo fui ficando muito mais tranquila.

No Prximo encontro, Carla inicia a sesso dizendo:

- A minha av arrumou um namorado! Escuto a voz dele o dia inteiro, ele liga para ela de manh, de tarde e de noite. Minha me fala que igual a namoro de adolescente. Aqui em casa todo mundo brincalho, zoava que ele era o pai da minha tia, no passava disso. Domingo de manh, a irm da minha av estava aqui em casa e ouvi ela dizer: Estou namorando o Adailton. Eu falei: est nada! - revirei os olhos! Chorei muito! Senti cimes dele com ela. Ela no est namorando! No pode! Queria meu av! Minha me falou: Voc quer que ela morra? Deixe ela viver a vida dela! No est fazendo nada de errado!. Eu falei: Ela j beijou? No! Ento no namoro!

Muito importante dar destaque a esse trecho. Ns tendemos a acreditar que o jovem mais tolerante, aceita mais as transies das experincias de vida, principalmente, as amorosas. Mas neste caso, Carla mostrou-se aprisionada a situao, muito mais do que a sua prpria me, mesmo mais velha, acha que bom para a av e que ela tem que viver a vida dela. E a menina, que jovem, tem 14 anos, no aceita que a vida da av siga. O que ela expressa da seguinte forma:

- Eu quero a minha av enlutada pelo meu av, eu quero que a minha av experimente a dor da perda do meu av para sempre.

E como veremos mais adiante, essa situao do namoro da av, a abala tanto ou mais que a prpria morte do av. Parece que Carla est presa no que ela quer que acontea. Desse modo ela perde de vista que h outros modos de lida possvel. Ela est na senda do eu. Ela lida com a coisa, como se a referncia fosse ela. A psicloga, pouco a pouco, ir deixando aparecer que existe outra referncia alm dela. Estar na senda do eu vai aparecer em outras situaes da vida de Carla. Inclusive, Binswanger (1942/1964) e Han (2017) dizem que esse amor a si mesmo, essa auto referncia narcsica, a fonte de depresso. bom poder trabalhar clinicamente essa sada da referncia narcsica, para ento Carla ver o outro o outro, ou seja, para que o outro possa se apresentar a ela como alteridade.

Durante a apresentao desta situao clnica, um aluno da especializao acrescenta:

- Quando a paciente fala que esse lugar do meu av, penso que ela quer dizer que esse lugar dela. Ela falou antes que deitava na cama no lugar do av, que estava acostumada a ocupar aquele lugar. Acho que ela s est falando dela, do lugar dela e do medo de perder esse lugar junto a av, ou que a memria do av seja perdida. Ana, no lugar da supervisora, diz:

- Exato, eis as vrias facetas do luto! Ento a gente tem a dor do luto, que foi aquilo que ela sentiu na igreja e a dor porque tem dor, que sofrimento. A dor do luto, o psiclogo no pode fazer nada, a no ser acompanhar, estar junto ao enlutado. A dor porque se tem dor, isso sim, a tarefa do psiclogo, que aquilo que a psicloga vai trabalhar, como veremos a seguir:

- Voc ficou com cimes de que exatamente? Me fala um pouco mais sobre isso!

- Sempre foi a minha av e o meu av, a vida inteira foi assim. Ento assim, a agora vem a minha av falando com um cara totalmente estranho!

- Estranho para voc, no para tua av?

- , para mim! Minha av falando com esse cara, eu fico assim, n gente! Que abuso esse? Assim, no era para ser ele, era para ser meu av. No ele, A gente brinca com isso, mas a depois quando comea a ficar mais sensvel! Era para ser uma brincadeira, passa a rodar na minha cabea como se fosse uma verdade, como se, trazendo, isso realmente t acontecendo, na brincadeira, no vai acontecer, s amizade. A ela vem e fala que est namorando? s vezes fico mal com isso. Ele separado, mas fala que nunca esqueceu minha av. Eles foram noivos novinhos, com 21 anos. Minha av est com 82 anos e ainda pensando em namorar? Sessenta e um anos depois? Ironicamente complementa: S um pouquinho (ri).

A psicoterapeuta ento continua:

- Eles se reencontram em outro momento da vida, em que cada um est vivendo uma experincia diferente.

- S que ele era safado, n? Descobri que ele traiu minha av.

- H 60 anos!

- Ele no a deixava sair para danar. Um dia ela foi com uma amiga e viu ele andando de mos dadas com outra mulher.

- Pode ser que ele continue sendo, mas parece que est fazendo bem a sua av ...

Carla interrompe a psicoterapeuta e diz:

- Ele j separou trs vezes.

- Talvez no esteja sendo bom para voc que acha que ele pode substituir o lugar do teu av....

A paciente interrompe novamente e complementa:

- Ah, mas no tem beijo! Se no tem beijo no namoro!

A psicoterapeuta insiste em tentar que a experincia da av seja percebida por Carla:

- Talvez seja importante para sua av no se sentir sozinha. Poder ter algum que liga trs vezes ao dia, preenche um espao, mas no necessariamente substitui ou apaga o amor ou a relao que tua av teve com seu av.

- No sei. ! Ela foi para o outro quarto desde que a irm dela esteve aqui, elas dormiam juntas l. Eu at perguntei: u porque voc t longe de mim? E a av respondeu: para voc ter espao!. Ela diz que sou muito espaosa! porque provavelmente ela tambm quer ter espao!

A psicoterapeuta continue insistindo que a av aparea para Carla com uma pessoa que tem interesses e vida prpria, e diz:

- Talvez ela realmente queira ter esse espao, at para conversar com o namorado dela, conversar sobre os assuntos deles.

Carla replica:

- Mas ela tem vergonha disso! Pediu para no contar a ningum. Se preocupa com a irm de meu av, que ainda no sabe do meu av, porque est bem doente e o mdico orientou no contar. S que teve o aniversrio de 50 anos da minha tia e a minha av chamou a cunhada dela para a festa. Nunca nem ouvi minha av falar, nunca soube dela. S soube dela quando eu e minha prima vasculhamos a vida dele, n! Porque ele no tem nada, nenhuma rede social, o cara annimo! A procuramos a famlia, sabamos o sobrenome. Minha av diz que amiga dela, mas olha, minha av nunca falou com ela, e ela nem daqui. Ela convidou a cunhada e o namorado para o aniversrio. Ele no foi porque ele tambm mora longe, mas quis dar os parabns para minha tia. A irm dele foi. E minha av ficou super ansiosa, aflita, afobada. Conversou com ela a festa inteira! Fiquei com cimes! Tenho medo de quando eu for conhecer ele. No quero uma pessoa estranha na minha casa. E quando eu ver ele? No quero saber dele no! Na minha cabea era praticamente impossvel imaginar minha av com outra pessoa. Sempre imaginei que meu av ia antes dela, cheguei a imaginar a gente recebendo a notcia dele. Ele j foi vrias vezes para o hospital. Tenho desenho de quando eu era criana dele saindo do hospital, quando eles pegaram Covid, ela estava pior que ele, rezava muito por ela. Uma vez eu estava muito angustiada, ela j tinha sido entubada, eu comecei a conversar com Deus. Conversava com ela, voc vai voltar! E a pensava, pera a meu av, e tambm falava com ele, na minha cabea, n! Tentava me preparar, e seu eu receber a notcia? Passava na minha cabea sempre ele indo embora. Eu fico com muito medo dela ir embora, tenho medo de perder ela, no quero ficar longe dela. Tenho muito, muito, muito medo de perder ela! Com meu av fiquei pensando o que poderia ter feito diferente com ele? No consigo aceitar que um dia ela vai, ela uma parte de mim muito grande. Fico mal quando trato ela assim, calma! No posso fazer isso com ela, ela vai morrer, no quero que ela v embora e eu me arrependa de ter feito isso.

No prximo encontro, Elaine inicia a sesso, perguntando:

- Oi Carla! Como voc est hoje?

- Sinceramente estou bem! Ontem foi dia de finados, n? Estvamos rezando e estava com medo da minha av esquecer do meu av. Meus avs sempre foram muito religiosos. Mas estvamos indo para um churrasco na casa da minha tia, e passamos pelo cemitrio onde ele foi enterrado. A minha av perguntou a minha me se ela tinha ido l, e ela disse que no, pois estava chovendo muito e ficou medo de pisar em algum lugar e o pai puxar o p. Ficamos brincando, imitando-o falando. Minha av ficou com os olhos vermelhos, cheios dgua, chorou. Ela raramente chora. Mas olha, no geral, eu estou bem, estou melhorando.

A psicoterapeuta ento aproveita o relato de Carla e faz uma sntese de um modo pelo qual a experincia de luto aparece:

- A saudade vai aparecer, tem horas que o corao vai apertar, que vai doer. Tem horas que voc vai brincar, vai sorrir com as boas lembranas. Vocs passaram em frente ao cemitrio, lembraram do seu av, do modo como ele falava. Vocs brincavam lembrando dele, o que possvel, n? Enquanto vocs brincavam, aquilo trazia alegria para vocs, sua av se emocionou. Cada um no seu tempo, com a sua experincia. Pode ser que um dia sua av esteja sorrindo sozinha e lembrando de coisas boas que viveu com ele. bom a gente poder ver as nuances da vida. Um dia bem, outro no.

- Eu fiquei tranquila quando vi que ela chorou e se emocionou por causa do meu av. Eu vi que ela no esqueceu dele ainda

Comentrios: Paulo, colegial da especializao comenta: uma linda histria de amor pelos avs, de querer que os avs nuca morram, que esse amor sempre permanea, nada mude. Muito tocante!

 

Consideraes finais

A experincia da psicoterapeuta com crianas e adolescentes j vem de longa data. Quando comeamos a estudar sobre os temas da pesquisa coordenada pela Feijoo, sobre suicdio, morte e luto sentimos a necessidade de compreender como o pblico infantojuvenil lidava com tais questes. Estudando mais especificamente sobre o luto, fomos percebendo que o que se encontrava na pesquisa, naquele momento, eram apenas especificidades do mundo adulto, quais sejam: culpa, negao, saudade, revolta, entre outros. Ento questionamos: h alguma diferena entre a experincia de luto em crianas, jovens e adultos? Crianas e jovens vivenciam a experincia do luto?

Com tantas perdas ocorridas durante a pandemia, pudemos ver que os filhos de amigos prximos perderam seus avs, tios, atentos ao fenmeno procurvamos entender o que acontecia com as crianas e os adolescentes. Mas observar era insuficiente para poder compreender o afeto do luto. Numa tentativa de conhecer as expresses particulares da experincia do luto em jovens, suspendendo os estigmas que o mundo moderno carrega, recorremos a literatura, a filmes e a experincias vividas pela prpria psicoterapeuta

No filme, A rvore (2010), que acontece na Austrlia, um casal vive feliz com seus quatro filhos pequenos, at que a morte brutal do pai deixa a famlia devastada. Cada um deles vivencia o luto ao seu modo. Simone, de apenas 8 anos, diferentemente dos demais, se recusa a ficar de luto e prefere subir regularmente na figueira de seu jardim e diz sentir ali a presena de seu pai... J no filme Monsieur Lazar, o que traz boas novas, que se passa no Canad, podemos ver o modo como algumas questes tais como a lida com o suicdio e o modo de vivenciar o luto afetam os alunos, professores e a direo da escola, quando ocorre o suicdio de uma professora no espao escolar. A dinmica que se mantm na escola a de que a questo deve ser acompanhada de silncio, meio que uma poltica do segredo e do sigilo. O que percebemos que questes como culpa, culpabilizao, tenses, conflitos comumente aparecem nessa situao. Fato esse que confirma a ideia de que que falar em morte, luto e suicdio ainda tabu nos dias de hoje.

Em ambos os filmes aparece algo que merece ser pensado, o que Feijoo (2021) denomina de momento impactante. Trata-se do momento em que h um impacto frente ao deparar-se com a notcia ou com o ente querido morto. As pessoas entrevistadas na pesquisa realizada por Feijoo relatam que esse momento ficou marcado para sempre.

No livro Kafka e a boneca viajante (Fabra, 2009), h o relato em que esse momento impactante se mostra com tanta fora que Kafka, passeando pelo parque, interrompe a sua caminhada para ver o que acontecera. Fabra nos conta que parque Steglitz transpirava vida naquele incio de vero. Tratava-se de um presente da vida. E Franz Kafka a absorvia como se fosse uma esponja, viajando com os olhos, atraindo energias com a alma, perseguindo sorrisos por entre as rvores. Era mais um entre tantos, solitrio, com seus passos perdidos sob o manto da manh. Sua mente voava livre de costas para o tempo, que ali se embalava com a languidez da calma e se balanava alegre no corao das pessoas. Que silncio... pensava ele. Esse silncio era interrompido apenas pelas brincadeiras das crianas, pelas vozes das mes as chamando, insistindo, advertindo, pelas palavras tranquilas dos mais prximos e pouco mais. Naquele silncio, de repente, o choro de uma menina, alto, convulso, repentino, fez Franz Kafka parar. A situao estava muito perto dele, a poucos passos, e no havia mais ningum em volta. No se tratava, portanto, de uma briga de criana, nem de um castigo de me, nem sequer de um acidente, pois no parecia que a menina tivesse levado um tombo. Ela chorava em p, desconsolada, to angustiada que parecia trazer no rosto toda a dor e a aflio do mundo. Franz Kafka olhou para um lado e para o outro. Ningum notava a menina, parecia estar sozinha. Ele no sabia o que fazer.

Para ele as crianas eram um completo mistrio, seres de alta periculosidade, um conjunto de risadas e lgrimas alternadas, nervos e energia flor da pele, perguntas sem fim que o levavam a e exausto absoluta. Mas aquele grito o fez parar, percebeu que no era birra de criana, sua ateno voltou-se totalmente quilo que expressava dor. Parece que Kafka assistiu aquilo que Feijoo denominou de momento impactante. Para Kafka tudo em volta desapareceu. Apenas a expresso da menina era o que importava! Kafka no ficou indiferente nem mesmo na neutralidade, via a situao como algo que lhe dizia respeito. Eis a fora do momento impactante! Carla parece iniciar a psicoterapia tomada ainda por esse momento impactante que vai, pouco a pouco, se dissipando, embora possa permanecer na lembrana.

Por fim, Elaine, a psicoterapeuta de Carla, traz a sua prpria experincia. Experincia que ocorreu quando ela estava com 14 anos. Nessa ocasio, ela teve a primeira perda significativa da sua vida, perdeu sua av. Ela se lembra quando o mdico entrou na sala em que estvamos e disse que ela havia falecido, na voz de Elaine: Ca no cho e gritei: no, ela no!!! Chorava sem parar, um vazio tomou conta de mim! Perdi minha amiga, minha companhia de todos os dias, morvamos juntas!. Elaine ainda nos conta outra experincia que foi de fato a primeira perda, ela nos conta: Foi quando eu tinha cerca de dois anos, perdi meu irmo um ano e meio mais velho que eu. Em relatos dos meus pais, vivenciei situaes que deixaram evidente a dor da ausncia e a minha revolta com Deus. Eu e meu irmo estudvamos num colgio de freiras, e aps o ocorrido, sendo recepcionada pela freira, ela disse: Deus quis assim, e eu ento falei: Ele me perguntou se podia levar? No gosto mais em Deus! Em outro momento ao questionar onde meu irmo estava, um adulto me disse: Ele est no cu, e eu imediatamente disse que me dessem uma escada que iria busc-lo. Minha me me conta que certa vez, deitadas na cama eu comecei a chamar por ele e a chorar muito porque queria que ele estivesse ali.

Pensando ainda em situaes de crianas que experienciam o luto, rememoremos uma situao de suicdio de uma menina, que comete o ato aps o falecimento de seu pai . Ela deixa um bilhete para a me dizendo: Querida mame, por favor no fique triste, eu sinto tanta falta do papai, que quero v-lo novamente. Nesse caso, a perda do pai deu lugar as saudades. Uma outra criana com que tivemos, de apenas 4 anos de idade, perdeu av por Covid e perguntava a todo momento: Cad a vov? Cad a vov?. Isso repetidamente, como quem sente a ausncia daquele que se foi.

Se considerarmos o luto na perspectiva da dor, podemos concluir que a reao frente ao impacto, seja da notcia ou de ver a pessoa morta, deixa claro que o luto como dor est presente na criana, bem como em qualquer fase da vida. Refletindo sobre todas essas questes, pensando no luto das crianas que descrevemos acima e no que foi experimentado pela psicoterapeuta na sua infncia, percebemos dor, revolta e saudade. E justo esses afetos so os mesmos afetos relatados por adultos em situao de luto (Feijoo, 2021).

Por fim, Elaine conclui: Hoje ao me lembrar o quanto me revoltei com Deus, percebo que no mais assim. Dei-me conta que Enquanto eu inventar Deus, ele no existe (Clarice Lispector, 2005).

 

Referncias

Binswanger, L. (1964). Grundformen und Erkenntnis menschlichen Daseins (4a ed). Munchen/Basel: Ernst Reinhart Verlag. (Obra original publicada em 1942)
Brice, C.W.(1991).
What forever means: an empirical existencial-phenomenological investigation of maternal mourning. Journal of Phenomenological Psychology, 22, p 16-38

Fabra, J. S. (2009). Kafka e a boneca viajante. So Paulo: Martins Fontes.

Feijoo, A.M.L.C. (2010). A escuta e a fala. Rio de Janeiro: IFEN.

Feijoo, A.M.L.C. (2021). Suicdio & Luto: da investigao fenomenolgico-hermenutica s prticas clnicas fenomenolgico- existenciais. Rio de Janeiro: IFEN.

Feijoo, A,M.L.C. ( 2022). Escuta clnica experincia de uma me enlutada em tempos de Covid-19. Psicologia: Teoria e Prtica., (24), p. 1-20.

Han, B.-C. (2017). Agonia do Eros (E.P. Giachini, Trad.). Petrpolis: Vozes.

Heidegger, M. (2006). Os conceitos fundamentais da metafsica: mundo, finitude e solido. (Marco Antnio Casanova, Trad.) Rio de Janeiro: Forense Universitria. (Original publicado em 1929)

Lispector, C. (2005). Perdoando Deus. Todas as crnicas. Rio de Janeiro: Rocco.

Me, V.H. (2020). A desumanizao. Rio de Janeiro: Globo.

 

Curriculum

Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo

Investigadora de la Universidad del Estado del Rio de Janeiro (UERJ) y del Centro Nacional de Pesquisa (CNPQ). Profesora Titular de graduacin y postgrado en Psicologa Social en la Universidad del Estado de Rio de Janeiro. Sus estudios postdoctorales fueron en filosofa en la Universidad Federal del Rio de Janeiro (UFRJ) (2010), doctorado en Psicologa de la UFRJ (2000) y maestra en Psicologa por la Fundao Getlio Vargas (FGV/ISOPE - 1983). Investigadora de situaciones de suicidio y duelo.

 

Eliane Lopez Feijoo

Psicloga. Especialista em Psicologia Clnica na Perspectiva Fenomenolgico-Existencial pelo IFEN. Pesquisadora pelo Diretrio dos Grupos de Pesquisa do Brasil, CNPQ na linha de Pesquisa Psicologia e Filosofia da Existncia e Pesquisadora pelo Laboratrio de Fenomenologia e Estudos em Psicologia Existencial do Rio de Janeiro (Lafepe/UERJ). Scia do IFEN, onde professora, supervisora, orientadora de grupo de pesquisa e coordenadora acadmica do curso de Especializao em Psicologia Infantojuvenil. Organizadora de libros, congressos e captulos de livros com o pblico Infantojuvenil.

Psicloga. Especialista en Psicologa Clnica desde la Perspectiva Fenomenolgico-Existencial por IFEN. Investigadora del Directorio de Grupos de Investigacin de Brasil, CNPQ en la lnea de Investigacin Psicologa y Filosofa de la Existencia e Investigadora del Laboratorio de Fenomenologa y Estudios en Psicologa Existencial de Ro de Janeiro (Lafepe/UERJ). Socia de IFEN, donde es profesora, supervisora, asesora de grupos de investigacin y coordinadora acadmica del curso de Especializacin en Psicologa Infantil y del Adolescente y de formacin en Anlisis de Eleccin Profesional. Organizadora de jornadas, libros y captulos de libros para nios y jvenes.

 

 

Correo de contacto:

Elaine Lopez Feijoo

elaine@ifen.com.br

 

Ana Mara Lopez Calvo de Feijoo: ana.maria.feijoo@gmail.com

 

Fecha de entrega: 30 de julio de 2024

Fecha de aceptacin: 21 de agosto de 202

 



[1] Carla o nome fictcio da jovem que ser acompanhada psicologicamente

Enlaces de Referencia

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