Revista Latinoamericana de Psicoterapia Existencial. UN ENFOQUE COMPRENSIVO DEL SER. Ao 12 - N 23 Octubre 2021.

 

Seccin Comentario de libro

 

As constribuies da psicloga M.M. Magnabosco psicopatologia geral

 

Prof. Emilio Romero

Joinville, Brasil


 

 


Nestes ltimos anos a psicloga Maria Magdalena Magnabosco nos tem presentado seus novos aportes sobre temas centrais de uma psicologia de orientao existencial, sem menospreciar os aspectos mais concretos que caracterizam a vida de todos ns, especialmente nas reas de maior vulnerabilidade, susceptveis de afectar-nos a todos, geralmente qualificadas como o nome de perturbaes mentais. At onde podemos apreciar, seus trabalhos de pesquisa figuram entre os melhores aportes do Brasil, junto com as publicaes do grupo Ifem de Rio de Janeiro e do professor J.P. Giovanetti em Belo Horizonte.

Sua obra abrange as questes filosficas de um enfoque baseado em postulados existenciais e no mtodo fenomenolgico em sentido amplio com alguns discretos apelos compreenso foucaultiana quando enfoca questes presentes nas diversas formas do malogro pessoal.

Citar todos os livros que j tem editado como nica autora e como co-autora nos exigiria uma amplia entrada a sua obra, o que no pertinente num espao limitado dedicado a possveis leitores interessados em obter melhores bases para seu trabalho profissional; menciono aqui as mais oportunas para seu conhecimento.

De todos os modos basta a leitura do texto que destacarei em seguida para apreciar os fundamentos de seu enfoque de temas sempre presentes em nosso trabalho como terapeutas; todos eles recebem uma etiqueta diagnstica geralmente desde a perspectiva mdica. A contribuio de nossa autora mostrar-nos outro modo de abordar estes temas iniludveis, sem ideias preconcebidas. Em parte, esta nova forma de encarar o psicopatolgico j tinha sido proposta por Ronald Laing, l pelos anos 60 em seu livro O eu dividido, mas sem os recursos filosficos que nos mostram as obras de esta psicloga. Laing se propunha no s questionar os diagnsticos psiquitricos, mas igualmente reconsiderar a chamada doena mental como outra forma mais de ser, forma de ser desqualificada por no encaixar nos padres dominantes de comportamento no sistema grupal familiar e social.

Em 2017 editou Outras palavras em psicopatologia que destaca o que considera inevitvel plantear-se num enfoque baseado nos pressupostos previamente assumidos. So os fundamentos filosficos de uma antropologia. Mesmo se assume postulados de uma ontologia entende que o ntico precisa ser destacado como a configurao mais prpria de uma vida. Um

aspecto so os pressupostos gerais, as teses diretoras de um enfoque, outro o que se nos apresenta na

histria pessoal. Diria que o importante o que se nos mostra na histria pessoal mais que um pressuposto que estaria articulando sua emergncia, sem ser um fator determinante, ou emergente ou coadjuvante, como acontece na psicanalise, ou nos enfoques cientficos que entendem os fenmenos num processo que segue uma sequncia inclusive observvel ou presumvel.

Apoiada em Gadamer, a autora expe um abordagem compreensivo dos fenmenos que logo pretende abordar; este modelo compreensivo recomenda quatro atitudes que o se devem observar ao estudar o psicopatolgico:

a) Estar aberto fala do outro;

b) Receptividade para com a alteridade.

c) Reconhecer o preconceito: os diversos modos que distorciam a correta apreenso do que se examina.

d) Sair do familiar para o estranhamento; a compreenso s comea quando algo nos interpela, quando samos da familiaridade e nos incomodamos. Esta a condio suprema da hermenutica, ou seja, pr em suspenso os prprios preconceitos.

Estas so os pressupostos bsicos; logo a psicloga entra em considerao de um quadro claramente presente no sculo XIX descrito como neurose.

Magnabosco examina uma forma de neurose, que ocupou um amplio campo de anlises tericas nas principais figuras da psicopatologia clssica: primeiro a histeria e logo a depresso e suas relaes com o corpo.

Mesmo que Magnabosco no os mencione h outros autores que examinaram este fenmeno polimorfo, desde Freud a Binet-Sangl, desde o caso Dora, a menina e sua fixao edipiana at a teo-megalomania histeroide descrita em centenas de pginas por Binet-Sangl. K. Jaspers dedica vrias pginas a este fenmeno em sua Psicopatologia Geral, embora no nos aporte nada fora do que predominava nos autores de sua poca; neste sentido o que no proporciona Magnabosco uma nova entrada a uma forma de falsificao de si, ou inautenticidade, seja por mero narcisismo, seja por a clara conscincia de inferioridade social manifesta, que minha posio colocada em meu livro O inquilino do imaginrio (1994) onde caracterizo a histeria como uma das formas malogradas de existncia.

O mais curioso que neste captulo se omita o carter histrico numa frao considervel da homossexualidade masculina; uma omisso originada pelo novo poder gay, que impe o que deve ser dito e o que deve ser ignorado? Fica este tema em aberto.

No ltimo captulo nossa autora considera a corporeidade. Neste captulo se faz a conexo entre a corporeidade e a questo do gnero na cultura contempornea.

A psicloga escreve: Podemos perguntar-nos o que somos com seres corpreos, somos pessoas que sentimos, percebemos, simbolizamos e nos relacionamos com o mundo a partir de sensaes, imagens, smbolos, o quais esto inscritos em todo o que experimentamos. Assim, a corporeidade o modo de ser da presena, e, por tanto, um existencial que a estrutura como ser-no-mundo, ou seja, que estrutura a presena em modos de ser. Tais modos de ser esto com o tempo histrico e com a cultura onde nascemos e recebemos/devolvemos tatos, contatos, percepes e sensaes que nos integram como seres humanos (pg.79). O corpo presena.

Este captulo merece uma leitura muito atenta para assim captar toda a riqueza que nossa autora nos oferece com seus modos de enfocar este e outros temas.

Deixo por aqui os breves apontes de um livro que exige todo um seminrio para examinar tanto seus fundamentos como as radiaes que implicam sua forma de abordar temas que raras vezes consideramos em sua justa magnitude, com seus pressupostos, suas armadilhas, seus preconceitos.

Vou so mencionar dois livros mais desta psicloga, apenas para dar uma ideia de como se tem interessado em assuntos que raras vezes so abordados nos cursos de psicopatologia proporcionado por nossas Faculdades de psicologia. Advirto que nestes cursos os estudantes tampouco observam o comportamento dos internados em hospitais psiquitricos, o que implica que s tem uma imagem fantasiada do que seja a conduta de um internado e sua forma de viver sua histria e sua recluso.

Em su livro Paranoia (2019), coloca os pontos iniciais do paranoide; nos oferece uma histria clnica que de uma outra maneira implica "desgarramento do outro e sua vigilncia", que algo diferente de um mero distanciamento. Entre psiclogos pouco comum a exposio de uma histria clnica neste tipo de perda de si.

Coordenou o livro "Temas contemporneos na prtica da psicologia existencial". O livro conta com a colaborao de vrios colegas bem conhecidos, todos eles muito bem fundamentados e elaborados; so dez captulos, includo um de M.M. sobre a Sndrome de pnico, cuja manifestao mais alarmante o sentimento de uma ameaa que contamina a atmosfera existencial da pessoa (diferente da paranoia, que identifica os entes ameaadores). Tambm a colega Anglica Martins nos relata om caso clnico de difcil compreenso: as automutilaes fsico-corporais de numa jovem associados a um ambiente familiar muito conflitivo.

 

Curriculum
Psiclogo clnico. Ex docente de varias universidades en Brasil. Miembro fundador y de honor de ALPE. Escribi numerosos libros cientficos y literarios.

 

Correo de contacto: emiliorom@terra.com.br

Fecha de entrega: 21/06/2021
Fecha de aceptacin:
06/07/2021


 

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